Após reunião, dia 14 de janeiro, dos representantes das entidades médicas capixabas com o Diretor-Geral da Rede Gazeta, Carlos Fernando Lindenberg Neto, para manifestar a indignação da categoria com a charge publicada nesse mesmo dia pelo jornal A Gazeta, intitulada “A máfia dos médicos”, a edição de hoje (15/1/2015), traz em seu editorial a explicação sobre a real intenção da charge e nas páginas 6 e 20, respectivamente, uma matéria de registro da reunião do dia anterior e a reação da classe médica.
Participaram da reunião na Rede Gazeta, os presidentes do CRM-ES, Severino Dantas Filho; da Associação Médica, Carlos Alberto Santos; do Sindicato dos Médicos, Otto Baptista; da Federação das Unimeds do ES, Alexandre Ruschi; e da Associação dos Estudantes de Medicina do Espírito Santo, Vinícius Coach; além de diretores dessas mesmas entidades.
Veja abaixo, na íntegra, o resultado da reação da classe médica
QUINTA-FEIRA, 15 DE JANEIRO DE 2015 – A GAZETA
p. 2 – DA REDAÇÃO
As charges, as reações e o direito de se expressar
ARTE SOMADA AO JORNALISMO, atenta aos fatos e com boa dose de humor, ironia e crítica. Assim podem ser definidas as charges publicadas pelos jornais, de uma forma geral. Com certa frequência, esse olhar mais ácido atinge governos, mazelas sociais e os mais diversos alvos de denúncias.
Ontem, nesta página, o chargista Arabson abordou a série de denúncias apresentadas pelo programa “Fantástico” nos últimos domingos. O assunto repercutiu em todo o país. Um grupo de médicos é acusado de indicar cirurgias desnecessárias para obter vantagens de fabricantes de próteses ortopédicas. Outro grupo foi denunciado por implantar materiais com validade vencida, em cirurgias cardíacas, e provocar a morte de pacientes. Verdadeiros bandidos, travestidos de médicos, contra os quais toda a sociedade deve se levantar.
Charges, entretanto, são passíveis de todo tipo de interpretação. Como em qualquer arte, o entendimento não é de “propriedade” do autor. No caso de ontem, entidades médicas enxergaram no trabalho de Arabson mau gosto, desrespeito e falta de ética. Apesar de o título da ilustração deixar claro que ali estava uma crítica sobre os médicos denunciados pelo “Fantástico” – inclusive usando o mesmo termo, “Máfia” – a categoria mostrou-se indignada. Entendeu ser uma generalização que coloca no mesmo pacote toda a categoria profissional.
As entidades, é claro, têm todo o direito de reagir e protestar. Não era, entretanto, a intenção do chargista. “Não tive a intenção de ofender os médicos em geral. Retratei um assunto que está em evidência no país, a partir de denúncias divulgadas nas últimas duas semanas”, explicou. O trabalho de Arabson buscou sintonia com uma preocupação real das pessoas. Não há ficção nem invenção.
Quem se sente atingido pode não concordar, mas é preciso que a livre expressão se sobreponha. E é justamente com esse princípio que o jornal abre espaço hoje, na página 6 e na seção de cartas, para a reação indignada da classe médica. Afinal, no debate democrático, é preciso sempre defender a tolerância e liberdade.
Boa leitura, boa quinta-feira
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P. 6 – MATÉRIA FEITA PELO JORNAL
REAÇÃO
Médicos repudiam charge publicada em A GAZETA
Representantes do Conselho Regional de Medicina (CRM), da Associação Médica (Ames), do Sindicato dos Médicos (Simes), da Federação das Unimeds e da Associação de Estudantes de Medicina do Espírito Santo repudiaram a charge publicada ontem na página 2 de AGAZETA.
Intitulada “A máfia dos médicos”,ela fez uma crítica a médicos denunciados pelo Fantástico, da Globo, por cirurgias de prótese, órtese e de implante de stents.
Segundo os médicos Severino Dantas Filho, Carlos Alberto Gomes dos Santos, Otto Baptista e Alexandre Ruschi, e o estudante Vinícius Azevedo, a charge causou indignação pela “generalização de uma prática irregular restrita a um grupo de profissionais”.
“Toda categoria tem bons e maus profissionais, mas há um movimento de desmoralização do médico. Apoiamos a investigação dos fatos denunciados, mas repudiamos a charge pela generalização. Médicos têm o papel de preservar e salvar vidas, e se paramentam para exercer sua atividade”, afirmam.
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P. 20 – REAÇÃO DAS ENTIDADES MÉDICAS
FALA, LEITOR
Inaceitável mau gosto
Julgar uma categoria profissional pelas más práticas, pela falta de ética e até mesmo por atitudes criminosas de uma minoria é mais do que lastimável, é inaceitável. Quando esse inequívoco julgamento vem por meio de uma charge, soma-se à lista do inaceitável o extremo mau gosto.
As entidades médicas, assim como o Jornal A Gazeta, repudiam toda e qualquer falta de ética, de profissionalismo e, principalmente, atitudes criminosas em todos os níveis.
O Conselho Regional de Medicina do Espírito Santo (CRM-ES) atua na fiscalização do bom e ético exercício da medicina, julgando e punindo, de acordo com a legislação que lhe compete, as más práticas profissionais.
Junto com o Sindicato dos Médicos e Associação Médica do Espírito Santo, o CRM-ES defende a boa prática profissional e isso implica, inclusive, em repudiar veementemente o conceito explicitado, ontem, no jornal A Gazeta por meio da charge intitulada “A máfia dos médicos”. É importante deixar claro que nós, entidades médicas, respeitamos e defendemos a liberdade de imprensa. Mas não podemos nos calar quando nos deparamos com opiniões generalizadas colocando em um mesmo “pacote” toda a categoria profissional.
Existem bons e maus profissionais em todas as categorias, mas nem por isso podemos ou devemos generalizar e classificar todos como maus, ruins, péssimos ou até mesmo criminosos.
No que diz respeito à chamada máfia das órteses e próteses, denunciada na mídia nacional, o Conselho Federal de Medicina, em nome de toda a classe médica, propôs às autoridades competentes a criação de mecanismos para regular a comercialização de órteses, próteses e materiais especiais.
Reiteramos total apoio às investigações para coibir práticas condenadas pela imensa maioria dos 400 mil médicos brasileiros que, historicamente, tem se posicionado contra a cultura da impunidade – em todos os campos da vida em sociedade – no nosso país evitando danos aos pacientes e prejuízos econômicos.
Severino Dantas Filho, presidente do CRM-ES
Carlos Alberto Santos, presidente da Ames
Otto Baptista, presidente do Simes e vice-presidente da Fenam
Vinícius Coach, presidente da Associação dos Estudantes de Medicina do Espírito Santo
Alexandre Ruschi, presidente da Federação das Unimeds do Estado do Espírito Santo
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P. 20 – REAÇÕES DA CLASSE MÉDICA
Classe médica
Lamento profundamente a charge que vi hoje (ontem) na edição de A GAZETA. Sempre achei esse jornal referência para minhas informações, porém isso atinge toda a classe médica. Temos visto reportagens no Fantástico mostrando fatos ilícitos cometidos por médicos. Porém isso não é exclusividade dessa profissão. A grande maioria é de pessoas honestas. Ela foi direcionada a uma classe profissional inteira! O chargista sabe a extensão de sua mensagem, visto fatos recentes que sacudiram o mundo (Charlie Hebdo).
Augusto Cezar Schwartz, médico pneumologista.
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Indignação
Lamento profundamente a irresponsabilidade desse jornalista/cartunista que pela liberdade de expressão e de imprensa, que eu acho que deve existir, não tem o direito de ofender toda uma classe profissional milenar escondido nessa prerrogativa. credito que em toda profissão, inclusive os jornalistas/cartunistas, existam os criminosos de plantão, o que não significa que devo generalizar de forma grosseira e violenta. Chego até a “entender” a atitude tresloucada dos terroristas na França, não que eu concorde, pois se com apenas uma charge ofensiva e violenta contra minha profissão eu fiquei indignado, imagino com várias sobre uma religião.
Ricardo José Baptista, médico.
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Sem revisão
Tenho certeza que não houve uma revisão crítica da charge publicada. Em todas as categorias profissionais existem os bons e ruins. Temos consciência daqueles que possuem CRM e realmente utilizam a profissão para iludir e ludibriar a população, porém generalizar é de extrema infelicidade. Quando os senhores precisam de assistência médica em Vitória procuram os “ladrões”?? Com certeza não, portanto entendo que um jornal com a credibilidade que tem deveria se retratar com os profissionais que honram o seu CRM e por muitas vezes cooperam com o jornalismo sério, educativo e justo que promovem.
Ana Maria Ramos, médica.
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Insatisfação
Registro minha insatisfação com a charge publicada no jornal A GAZETA, em que há uma comparação explícita dos médicos com ladrões, o que não é verdade. Em todas as profissões temos pessoas com mau caráter, mesquinhas, mentirosas e também verdadeiros ladrões, mas nem por esse motivo podemos denegrir toda uma categoria profissional.
Carlos Magno Pretti Dalapicola, médico