Os médicos exercem uma atividade atípica quando falamos de doenças ocupacionais. Enquanto o profissional está avaliando, constantemente, a capacidade laboral dos demais trabalhadores, a sua própria saúde é, muitas vezes, relegada a um segundo plano. Soma-se a essa falha, as condições de exercício da medicina nesses tempos atuais, em que o profissional acumula vários vínculos, se submete a exaustivos plantões; muitas vezes, em locais sem infraestrutura adequada e com falta de equipamentos e materiais. Além do excesso de carga horária, a tensão da relação médico-paciente é mais um dos fatores que aumentam a vulnerabilidade do médico em relação a outras profissões.

Sabe-se que, nos últimos dez anos, tem aumentado o número de médicos doentes. No entanto, não há muitos estudos recentes sobre essa situação no país, nem estatísticas precisas, uma vez que a problemática não é encarada e conta com a cumplicidade negativa dos órgãos públicos, que fazem vistas grossas à situação.

O fato é que são várias as doenças ocupacionais que podem acometer os médicos. Mas, no serviço público, os profissionais não são levados periodicamente a exames, conforme a maioria dos trabalhadores. Fator desencadeante até de erros médicos. Um cirurgião com muitos anos de carreira, por exemplo, pode cometer um erro involuntário caso não corrija uma deficiência visual.

O ritmo estressante dos plantões sem as devidas condições de trabalho também contribuem para o abalo emocional dos profissionais, que lidam com o ”poder” de salvar vidas, mas também enfrentam o desafio de perder pacientes a todo o momento. O médico é um profissional que precisa conviver com a frustração de não ter salvado uma vida.

Estudos comprovam que o exercício da Medicina tem levado muitos profissionais a desenvolverem transtornos psiquiátricos, problemas clínicos graves, alcoolismo e uso de drogas ilícitas, assim como de medicamentos controlados. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), a prevalência de transtornos mentais é até quatro vezes maior entre os médicos do que na população em geral.

A Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo demonstrou que médicos apresentam taxas preocupantes de dependência de substâncias psicotrópicas, como tranquilizantes de tarja preta.

Há médicos perdendo a memória, a capacidade laboral, o intelecto e o raciocínio. Essa situação causa diversos prejuízos tanto para o profissional, que cuida da saúde dos seus pacientes e perde a própria, quanto para a sociedade. Além dos riscos de diagnósticos errados, há questões econômicas envolvidas, como a baixa produtividade, o que gera prejuízo para a sociedade como um todo. A saúde dos doutores deve ser tão prioritária como a de seus pacientes.

Autor: Telvio Valim
Advogado do Sindicato dos Médicos do Espírito Santo (Simes)

Texto publicado originalmente em A Gazeta

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