Cenário, em Vila Velha, mudou ontem com visita de ministério

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Crianças dividem maca no corredor do Himaba; cena foi registrada ontem

Uma cena que se repete dia a dia no Hospital Geral e Infantil Dr. Alzir Bernardino Alves (Himaba), em Vila Velha: corredores superlotados, onde até cadeiras plásticas são utilizadas como leitos para internação. Os pacientes – vale reforçar – são crianças. E, por falta de espaço, algumas delas dividem a mesma maca.

Esse era o cenário na manhã de ontem, vivido por mais de 20 pacientes. “Sem contar outros 30 internados numa sala, de forma também improvisada”, relatou um médico que preferiu não ser identificado.

A situação mudou quando a equipe recebeu a informação de que técnicos do Ministério da Saúde visitariam a unidade para uma avaliação. “Colegas foram designados para ajudar a arrumar vagas até na rede privada com o objetivo de esvaziar o corredor”, relatou outro médico.

No início da tarde, já não havia quase nenhum paciente no meio do hospital. “Uma pessoa da equipe do Ministério da Saúde percebeu a situação, tirou fotos dos que ainda estavam no local e comentou que não havíamos conseguido tirar todos”, relatou um dos profissionais de saúde.

Há pouco mais de uma semana, situação semelhante ocorreu: os médicos, devido à sobrecarga de trabalho, ameaçaram protestar. “Logo o corredor foi esvaziado”, contou um deles.

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Na semana passada, havia até berço no corredor

Fotos obtidas por A GAZETA mostram a situação de mães que passam a noite em cadeiras desconfortáveis, tendo no colo os filhos medicados por soro. Ou de crianças, como as flagradas na manhã de ontem – cujas famílias nem se conhecem –, que dividiam uma mesma maca. Uma delas foi internada na noite de ontem com pneumonia, segundo relatos da família.

Há ainda casos de crianças que passam noites e dias em leitos improvisados com cadeiras plásticas. Algumas internações são feitas próximo a depósitos onde ficam roupas sujas ou a salas de isolamento, destinadas a pacientes com doenças contagiosas.

Devido a essa situação, relatam os médicos, é comum pacientes contraírem infecções. “Já tivemos problemas com gastroenterite. Há um caso em que tivemos até que trocar o antibiótico por um mais forte”, disse um dos profissionais.

Muitas dessas crianças são encaminhadas ao hospital pelo Pronto-Atendimento da Glória, onde faltam pediatras, como revelam documentos obtidos por A GAZETA. “Atendemos até casos de ambulatório”, comenta um médico.

“Se preciso, atendemos crianças até em cadeira”

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Outro flagrante de improviso feito ontem: cadeiras de plástico viraram leito

“Não podemos nem vamos recusar pacientes. As crianças que precisam vão ser atendidas até em cadeiras se não houver alternativa”, disse ontem o secretário estadual de Saúde, Tadeu Marino, ao se referir à superlotação dos corredores do Hospital Geral e Infantil Dr. Alzir Bernardino Alves (Himaba), em Vila Velha.

O cenário, segundo Marino, é um reflexo da situação dos municípios da Região Metropolitana e do interior do Estado, onde falta atendimento pediátrico. “Se não encontra médico, a população vai para o Himaba, porque sabe que será atendida”, diz o secretário.

Com isso, o hospital, referência em cirurgia cardíaca infantil e destinado a urgências e emergências, acaba realizando atendimentos ambulatoriais. “Muitos pacientes vão lá, ficam o tempo de tomar um soro e vão embora”, explicou Marino.

Ministério

Marino confirmou que técnicos do Ministério da Saúde visitaram o Himaba ontem. Foram fazer uma das visitas de avaliação prevista dentro do Plano Metropolitano de Urgência e Emergência, que destina recursos federais para as unidades hospitalares.

Cerca de 15 hospitais no Estado foram incluídos no projeto e podem receber recursos para custeio – cerca de R$ 300 mil por mês – e investimento em infraestrutura em torno de R$ 3 milhões por unidade. “Foram conhecer o local”, disse o secretário, sem confirmar que o corredor foi esvaziado para receber a equipe.

Segundo Marino, até novembro serão convocados médicos aprovados no último concurso. Disse também que mais 350 leitos serão criados no Infantil Nossa Senhora da Glória e no novo Infantil de Vitória.

CRM: superlotação é rotina em várias unidades

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Corredor do Himaba vazio, após visita de médicos do Ministério da Saúde

O vice-presidente do Conselho Regional de Medicina (CRM-ES), Aloizio Faria, relata que a superlotação dos corredores hospitalares é uma situação que se repete em várias unidades do Estado.

“Já encontramos pacientes internados até no chão, em local sem higiene, sem ventilação, onde não se pode tomar nem um banho. Um desrespeito”, assinalou.

Em julho, o CRM fez uma vistoria em vários hospitais. “Constatamos que a situação é precária. Falta de estrutura a material. Só sobram pacientes”, pontuou Faria. Um relatório com as conclusões vai ser encaminhado para vários órgãos de investigação na próxima semana.

Subsecretária admite: faltam pediatras em PA

A subsecretária de Saúde de Vila Velha, Sônia Maria Dalmolin de Souza, afirma que há uma falha no plantão de sábado do Pronto-Atendimento (PA) da Glória, nas noites de sábado: faltam pediatras.

É uma situação que o município ainda não conseguiu resolver em decorrência da carência de profissionais. “No último caso, vamos contratar um médico generalista”, contou Sônia.

O PA da Glória é a única unidade de Vila Velha que oferece atendimento 24 horas e onde deveria haver atendimento pediátrico em todos os plantões. No local, por mês, são atendidas 2.512 crianças, cerca de 160 por dia.

Fluxo

O fluxo de atendimento é maior entre as 17h e as 21 horas, que é o período em que mães e pais retornam do trabalho e buscam atendimento para seus filhos. Lá, também são recebidos pacientes de outras cidades. Em outras 17 unidades de Vila Velha, o atendimento pediátrico é oferecido de segunda a sexta-feira, até as 18h.

De acordo com Sônia, o município reconhece as dificuldades do hospital. “Tentamos priorizar o atendimento e só enviar para o hospital os casos graves”, pontuou.

Matéria publicada no jornal A Gazeta
18/10/13

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