Faltam 7,2 milhões de médicos e auxiliares no mundo e até 2035, o déficit será de 12,9 milhões, segundo a OMS

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontaram, na segunda-feira (11), que até 2035, 12,9 milhões será o índice de ausência de profissionais de saúde no mundo. Atualmente faltam 7,2 milhões deles. O alerta, que pode causar graves implicações para milhares de pessoas, vem do estudo Uma Verdade Universal: Não Há Saúde sem Profissionais, divulgado pela OMS durante o 3º Fórum Global sobre os Recursos Humanos da Saúde. Participaram do evento  representantes de 85 países, incluindo 40 ministros da Saúde, em Recife (PE).
Desde o último estudo sobre o tema, em 2006, os números já eram preocupantes, embora de lá para cá tenha melhorado consideravelmente. Dos 186 países que existem no mundo, 83 deles, ou seja, 44,6%, ainda não alcançaram sequer a taxa mínima estabelecida pelo Relatório Mundial de Saúde de 2006, que prevê 22,8 profissionais de saúde qualificados para cada 10 mil habitantes.
Um dado mais positivo da OMS revela que outros 17 países (9,1%) ultrapassaram o patamar mínimo, no entanto, não alcançam os valores estipulados da Organização Internacional de Trabalho (OIT), que aponta 34,5 profissionais de saúde qualificados por 10 mil pessoas. Além disso, 18 países (9,7%) que atingem esta meta, não alcançam o patamar dos 59,4 profissionais para 10 mil habitantes.
Do total de países que atingem ou ultrapassam a meta de 34,5 profissionais por 10 mil cidadãos, são apenas 68 nações, equivalente a 36,6%, conforme agência da Organização das Nações Unidas (ONU) para a saúde. Entre os profissionais de saúde que se enquadram nas estimativas do déficit mundial de 12,9 milhões, até 2035, inclui médicos, enfermeiros e parteiras, segundo estudo da OMS.
Motivo
De acordo com relatório da OMS, a preocupação para o alerta está no envelhecimento dos trabalhadores de saúde, que se aposentam ou deixam de exercer a profissão por outros empregos mais bem remunerados e sem serem substituídos. Além do fato de que poucos jovens entram na área da saúde ou recebem formação adequada.
O estudo ainda mostra que a situação piora quando a tendência de queda dos trabalhadores que atuam na área coincide com um aumento da procura, não só porque a população mundial tende a crescer, mas, também, por causa da elevação do risco de doenças não transmissíveis, como enfermidades cardiovasculares, entre outras. Outro problema que destaca a OMS surge com as migrações internas e internacionais de profissionais de saúde, que tendem a elevar as desigualdades regionais.
“As fundações para uma força de trabalho forte e eficaz na saúde para o futuro estão se corroendo diante dos nossos olhos por não estarmos correspondendo à formação de profissionais com a procura das populações de amanhã”, acredita a diretora-geral adjunta da OMS para os Sistemas de Saúde e a Inovação, Marie-Paule Kieny. Para evitar que a situação agrave, ela ainda acrescentou. “É preciso repensar a forma como se ensina ou se forma o profissional. Além disso, como se coloca e como se paga os trabalhadores da saúde para que o seu impacto seja maior”, aponta Marie.
Faltam escolas médicas
A OMS acredita que, embora o continente asiático seja o local onde se preveem maiores falhas em termos numéricos, é na África subsaariana que o problema se fará sentir de forma mais aguda. Nos 47 países dessa região africana há apenas 168 escolas de medicina, segundo a organização, que aponta também 11 países sem qualquer escola de medicina e 24 nações com apenas uma instituição de ensino neste setor.
Já na região das Américas, 70% dos países têm trabalhadores de saúde suficiente para prestar atendimentos básicos na área. No entanto, muitas nações ainda enfrentam problemas ligados à distribuição dos profissionais, migrações e à qualidade da sua formação. É preciso que todos os países no mundo estejam atentos aos sinais de alerta, pede a OMS, destacando que 40% dos enfermeiros nos países ricos abandonarão a área nos próximos dez anos. A organização conclui que com uma profissão exigente e uma remuneração relativamente baixa, muitos jovens que trabalham no setor de saúde têm poucos incentivos para continuar o exercício do ofício. (Com informações da Agência Lusa)
Onde falta um, faltam outros
ELPIDES CARVALHO
Estudo da Demografia Médica no Brasil, que se baseou em dados da Assistência Médico-Sanitária (AMS) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aponta que demanda de médicos nos grandes centros acompanha a de outros profissionais de saúde. O que de fato, segundo a pesquisa, onde falta médico, faltam dentistas e enfermeiros.
“Além da falta desses profissionais, eles estão mal distribuídos. [Com o programa Mais Médicos lançado em junho deste ano], o governo alude em relação ao problema e responde com ilusão”, diz Jairnilson Silva Paim, professor titular de políticas de saúde da Universidade Federal da Bahia (UFBA), em entrevista, em setembro deste ano, ao jornal Folha de São Paulo.
Segundo o professor, o foco do debate que deveria ser em torno de “mais saúde”, passa necessariamente por mais financiamento, no entanto, terminou reduzido a “mais médicos”. O governo brasileiro até hoje não conseguiu resolver o impasse do custeio do Sistema Único de Saúde (SUS). O Senado aprovou, em 2011, a regulamentação da Emenda 29, que prevê gastos com saúde nos três níveis de governo, mas a bancada governista evitou que o relatório final determinasse a União a investir 10% de sua receita no setor.
Na avaliação de especialistas em saúde pública, medidas focadas apenas na fixação de médicos nos rincões do País tendem ao fracasso. “É um equívoco considerar isoladamente a presença de médicos, sem atacar as raízes das desigualdades”, afirmou Mario Scheffer à Folha. Ele é professor de saúde preventiva da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador da pesquisa Demografia Médica no Brasil.
Já o professor Paim, da UFBA, conclui que: “o médico nunca trabalha sozinho, precisa de uma equipe, de condições objetivas para uma carreira de trabalho, de salário digno e de condições para exercer a profissão. É impossível achar que um médico sozinho vai dar conta do recado”, ressalta.
Concentração
O Brasil concentra 20% dos dentistas de todo o mundo, no entanto, a distribuição interna é desigual. Outro profissional que segue a mesma regra é o enfermeiro, ele está diretamente ligado à tendência dos médicos. Nos Estados do Sul e Sudeste, existe uma média de quatro a cinco médicos por profissional de enfermagem. Já no Norte e Nordeste, essa relação diminui pela metade.
Outro fator problema é a presença dos profissionais de saúde em determinadas localidades, que acompanha também a concentração regional da produção e da renda. De acordo com o professor da USP Scheffer, locais que oferecem melhores condições de infraestrutura, como estabelecimentos de saúde, maior financiamento público e privado, condições de trabalho, remuneração e qualidade de vida, atraem mais médicos. Em Goiás, na região oeste do Estado concentram-se quase 20% dos problemas de falta de médicos.

Diário da Manhã 

 

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